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Abstract(s)
O III Colóquio Internacional de Línguas Estrangeiras (CILE), realizado em outubro
de 2019, cujas atas se apresentam neste volume, subordinou-se à seguinte temática:
“Politicamente incorreto: será o mundo dos poliglotas?”. O título do volume –
Culturas, Identidades e Litero-Línguas Estrangeiras – representa uma extensão da
sigla do Colóquio, porque surge como pertinente e representativa da abrangência
deste Encontro Internacional e consentânea com os objetivos subjacentes ao
mesmo. As múltiplas expressões das línguas estrangeiras assumem, por isso, uma
importância incontornável no mundo atual, tendo igualmente constituído elementos
de reconhecido mérito e influência.
Ao longo da história, várias línguas se assumiram como lingua franca pela conquista,
pelo comércio e pela conversão religiosa (cf. Ostler, 2011), inevitavelmente associadas
à construção de impérios. Vejam-se os exemplos do grego, latim, português, espanhol,
alemão, francês e inglês. Tal evidência resultou numa uniformização linguística,
cultural e política, ainda que a par destas coexistissem as línguas vernáculas.
A valorização das culturas nacionais, sob os auspícios do pluralismo cultural
herderiano, ganhou novo fôlego com a recuperação de tradições e costumes, da
literatura tradicional, muitas vezes de pendor regionalista (cf. Contos dos Irmãos
Grimm, o Romanceiro de Almeida Garret, Rimas y leyendas de Gustavo Adolfo Bécquer
ou os Cuentos de Encantamiento de Fernán Caballero), e das variedades linguísticas
consideradas exóticas. No entanto, e paradoxalmente, nasce também a noção de
norma padrão ou de prestígio que faz parte do discurso das nações em processo de
afirmação, ou seja, se por um lado se defendem as peculiaridades linguísticas, por
outro, procura-se abafá-las para que estas sejam substituídas pelas línguas nacionais
em emergência. Com o desenvolvimento do método comparativo e a descoberta das
famílias das línguas (com base no seu parentesco), impõe-se também um processo
de prescritivismo linguístico que só se vai paulatinamente desconstruindo durante o
século XX.
Com base nestes novos princípios, começa a falar-se de línguas de prestígio (ou
prestigiadas) a par de línguas minoritárias (ou menorizadas) social ou culturalmente,
criando-se estigmas linguísticos que pouco favorecem o convívio transcultural e
translinguístico. O prestígio inerente a determinadas variedades em nada se relaciona
com categorias morais ou éticas, mas antes com a ideologia de que destas emana.
No contexto atual, o inglês, como uma das últimas lingua franca, impõe-se nas
organizações internacionais e multinacionais como a ponte linguística preferencial,
sem esquecer a forte presença comercial do chinês na economia internacional. O uso
de uma língua única leva-nos a questionar se esta postura não será politicamente
incorreta, demasiado redutora de uma realidade por natureza multilinguística,
poliédrica, transnacional e nómada. Nesta linha de pensamento, apresentamos o
desafio de contrariar esta tendência monolinguística e uniformizadora, valorizando
também todas as línguas e culturas sem preconceitos.
Esta foi a premissa principal que norteou o debate do III CILE, em 2019, uma
vez que acreditamos que a aprendizagem de uma panóplia de línguas e culturas estrangeiras pode abrir portas ao diálogo, ultrapassar fronteiras, tender pontes em
conflitos e enriquecer culturas. No mundo atual, que afirma fronteiras e reafirma
identidades para ultrapassar a desconexão e a incomunicabilidade, acreditamos
no poliglotismo natural dos espaços transfronteiriços, no cosmopolitismo cultural
secular e na porosidade dos mesmos, apesar da globalização tão marcada no mundo
digital.
Atualmente, já não basta falar uma só língua estrangeira, a globalização, a
“desterritorialização”, a “deslocação” das migrações, da diáspora e do exílio exigem
que sejamos poliglotas capazes de nos exprimirmos para estabelecer relações
interculturais e, como afirma Edward Said (2005, p. 141), cultivar a perceção da
diversidade em termos de diferentes mundos e tradições. Na visão de Aínsa (2015),
somos poliglotas porque todos somos estrangeiros nesta sociedade transcultural,
passageiros em trânsito de um cronótopo que nos faz nómadas, errantes e mestiços
num mundo em eterno presente fugaz. Os benefícios do multilinguismo são enormes
para nos auxiliar a ultrapassar o fosso linguístico entre culturas. A língua deixa de ser
pátria porque todas elas serão meramente temporárias (Said, 1996, p. 76). Atravessar
fronteiras leva a romper barreiras de pensamento e de experiência, levando-nos a
despertar para uma aprendizagem plural de línguas, para a reconquista da Torre de
Babel.
No III CILE, foram propostos diversos temas e tópicos para discussão, dos quais os
seguintes se encontram abrangidos nas presentes atas:
• Os escritores poliglotas
• A força das línguas mortas
• Monolinguismo vs. Plurilinguismo
• LE/cultura, memória e identidade
• Tradução e ensino das LE
A todos os autores expressamos os nossos agradecimentos pela colaboração e
disponibilidade manifestadas na publicação1 dos seus textos.
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Citation
Dotras Bravo, Alexia; Alves, Ana M.; Martins, Cláudia Susana Nunes; Silva, Elisabete Mendes; Chumbo, Isabel (Eds.) (2020). Culturas, Identidades e Litero-Línguas Estrangeiras. Atas do III Colóquio Internacional de Línguas Estrangeiras (CILE). Bragança: Instituto Politécnico. ISBN 978-972-745-284-2