ESE - Artigos em Proceedings Não Indexados à WoS/Scopus
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Browsing ESE - Artigos em Proceedings Não Indexados à WoS/Scopus by Author "Aguiar, Joana"
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- A africada surda e a semivocalização da lateral: um estudo sociolinguísticoPublication . Aguiar, JoanaNeste trabalho, analisamos a ocorrência da africada surda e da semivocalização da lateral em pronomes e determinantes, a partir de entrevistas espontâneas recolhidas nos cinco concelhos que constituem a Terra Quente Transmontana. Os entrevistados são falantes adultos, estratificados de acordo com o sexo, a idade e a escolaridade. A africada surda ocorreria no discurso oral, até meados do século XVIII, em palavras grafadas com , derivadas dos grupos consonânticos latinos CL-, PL- , FL- (Maia, 1986). Atualmente, a ocorrência da africada surda está cristalizada lexicalmente e ocorre no português oral em Trás-os-Montes e no mirandês. O fenómeno de semivocalização da lateral em pronomes e determinantes resulta da conjugação de aspetos fonológicos e morfológicos aplicados a itens lexicais de alta frequência. Os fenómenos em análise são socialmente estigmatizantes e estão associados a regiões do interior de Portugal e a falantes idosos. Surgem, inclusive, descritos nos trabalhos de Vasconcellos (1890-1892, 1985) como elementos que caracterizam a “linguagem popular” de Trás-os-Montes. Os resultados permitem-nos concluir que a africada é realizada maioritariamente por falantes com mais de 65 anos (95%) e em falantes não escolarizados (55%). Quanto aos fatores linguísticos, é notória a importância do léxico na manutenção da africada surda, na medida em que 88% das ocorrências podem ser agrupadas em apenas cinco grupos de frequência: formas verbais de chamar, chegar e chorar; formas derivadas do adjetivo pequeno; e formas regionais, como chícharos ou chorros. No que diz respeito à semivocalização da lateral, é também nos falantes com mais de 65 anos de idade que este processo é mais comum, tendo, também, sido registada a sua ocorrência em falantes na faixa etária [36-50]. Verificou-se que estes falantes são provenientes de Macedo de Cavaleiros e Alfândega da Fé, concelhos próximos da área de difusão do mirandês, língua onde este fenómeno também ocorre. Esta constatação sugere que a manutenção da realização da semivogal (em detrimento da lateral) em falantes cuja produção linguística é tipicamente mais próxima da variedade dita normativa (Eckert, 1997) poderá ser explicada através da proximidade com a área de difusão de uma língua que conserva a semivocalização em determinantes e pronomes.
- Variação no uso de porque em português: fatores linguísticos e sociaisPublication . Aguiar, JoanaEm português, o elemento de ligação porque estabelece uma relação de causalidade entre duas proposições ou dois atos de fala. Adoptando a proposta de Sweetser (1990), considera-se que a relação de causalidade pode ser tripartida em: causa real (1), causa explicativa (2), e causa interacional (3). (1) A Ana escorregou porque o chão estava molhado. (2) A Ana não deve gostar de marisco, porque não comeu nada. (3) Vai desligar as luzes. Porque precisamos de poupar energia. Do ponto de vista sintático, as estruturas introduzidas por porque não constituem uma classe de estruturas homogéneas (Lobo, 2003, 2013; Peres & Mascarenhas, 2006; Mendes, 2013; Aguiar & Barbosa, 2016). Os resultados de testes de escopo e clivagem apoiam a classificação destas estruturas em orações subordinadas adverbiais (não periféricas) (1) e estruturas suplementares (2, 3). Neste sentido, as orações subordinadas não-periféricas estão integradas na oração principal, c-comandadas ao nível de TP (Lobo, 2003), ao passo que as suplementares são estruturas paratáticas, com recurso a um operador, que estabelecem uma relação de dependência semântica com a estrutura à qual estão ancoradas, apesar de não estarem integradas, do ponto de vista sintático, nesta (Huddleston & Pullum, 2002; Peres & Mascarenhas, 2006). Tendo em consideração a classificação semântica e sintática das estruturas introduzidas por porque, este trabalho explora, a partir de uma perspetiva variacionista laboviana (Labov, 1972 e seguintes), a frequência de ocorrência destas estruturas e a sua distribuição de acordo com o sexo, a idade, e a escolaridade do informante. Os corpora em análise são compostos: (i) por textos redigidos a pedido por informantes adultos e não adultos, mediante tarefas controladas; e (ii) por textos recolhidos da blogosfera, redigidos apenas por falantes adultos. Os resultados mostram que a relação de causa explicativa é mais frequente, principalmente nos textos redigidos por informantes mais velhos e com mais escolaridade. Pelo contrário, os informantes mais novos e com menos escolaridade tendem a estabelecer mais frequentemente relações de causa real. Estes resultados ilustram o pressuposto de que a relação de causa real é mais facilmente processada (Noordman & Blijzer, 2000). O recurso a um conector explícito de alta frequência (Costa, 2010), como é o caso de porque é, assim, uma estratégia básica de argumentação e de estruturação textual em falantes mais novos e em falantes com menos escolaridade.