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Numa crónica intitulada “Poesia em tempos de indigência”, Manuel António Pina
(2010: 71), registava que, “em tempos como estes, de usura, há algo de inquietante e de
escandaloso no mistério gratuito da poesia”. E, de seguida, perguntava: “porque
continuam os homens a escrever poesia? E porque continuam outros homens,
desrazoavelmente, a escutá-la?”. Alargando o horizonte do nosso olhar, ou seja,
passando da poesia a todas as formas literárias, propomo-nos fazer uma reflexão a partir
da desafiante questão: porque continuamos, mulheres e homens, mais velhos ou mais
jovens, a ler literatura? Conscientemente, procuraremos uma – a nossa – resposta a esta
questão a partir do nosso lugar (locus) de leitor, reconhecendo que o leitor está sempre
em mais lugares do que o contingente “aqui e agora”.
Nesta era da globalização e de um crescente imperialismo da tecnologia,
nomeadamente das designadas tecnologias de informação e comunicação (TIC), é
frequente o discurso académico lamentar a má relação das novas gerações com a grande
literatura mundial. A reflexão desenvolvida por Mário Vargas Llosa (2012), em A
civilização do espetáculo, é um acabado exemplo desse desencanto. A crise das
humanidades tornou-se mesmo um tópico central em várias análises da sociedade, da
cultura e, mais especificamente, dos sistemas de ensino. Segundo Martha Nussbaum
(2010), a crise das humanidades é mesmo a maior crise que hoje enfrentamos. Não
queremos alinhar em discursos escatológicos, anunciadores do fim da cultura. Bem pelo
contrário, acreditamos que o “estar-em-crise” é, de algum modo, essencial às
humanidades e, mais especificamente, à literatura. Esta perceção não nos impede de
reconhecer a imperiosidade de desenvolver uma literacia crítica, a qual, nas palavras de
Azevedo (2006: 4), “corresponde à capacidade para ler, escrever, analisar e interpretar
o mundo de uma forma não ingénua…”. Na linha de pensamento deste autor,
reconhecemos que “educar para a literacia implica […] desenvolver a atividade
pedagógica para que o aluno, confrontado com usos múltiplos e polifacetados da língua,
aprenda a exercitá-la numa pluralidade de contextos e situações, conhecendo-a […] de
forma ativa” (Azevedo 2006: 3). A educação literária, que passou a ser consagrada
como um domínio específico de referência das Metas Curriculares de Português
(definidas pelo Ministério da Educação em abril de 2012), é seguramente um enorme
desafio e tem de ser abraçado por todos os agentes educativos. Temos de encarar “a
leitura literária como meio de propiciar experiências estéticas indispensáveis e
fundamentais para a maturação dos alunos enquanto pessoas” (Reis et al. 2009: 105).
Neste sentido, salvaguardando uma certa ancoragem em documentos, relatórios
oficiais e estudos referentes à problemática da educação literária, pretendemos levar os
nossos ouvintes a uma fantástica viagem pelo bosque da literatura (alusão a No bosque
do espelho de Alberto Manguel). Viajaremos, pois, seguindo um desassossegado voo
que nos levará pela obra poética de autores como Gabriel Celaya e Miguel Torga,
Sebastião da Gama e Manuel António Pina, José fanha e Álvaro Magalhães, e pela obra
de grandes prosadores como José Saramago e Valter Hugo Mãe, Italo Calvino e
Umberto Eco, Grabiel García Márquez e Luis Sepúlveda.
Description
Keywords
Leitura Educação literária Globalização
Citation
Teixeira, Carlos (2018). A Educação Literária: uma apologia da leitura. In Soares, M., Amarante, N., Fonseca, D., Coelho, S. & Fontes, S. (2018). (Co)insistências, Estudos em letras, artes e comunicação. Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. p. 93-100. ISBN 978-989-704-360-4
Publisher
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro