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A tradição gramatical insere na derivação regressiva produtos lexicais díspares cujo maior número é composto por substantivos deverbais (e.g. fabrico, janta, mordo, palpite). Estes substantivos deverbais, a que chamaremos “postverbais”, não obedecem, no entanto, aos parâmetros de um processo genolexical subtractivo. Uma análise rigorosa dos pressupostos da derivação regressiva e a sua comparação com os mecanismos de produção dos postverbais conduz à impossibilidade de integração destes no conjunto dos lexemas derivados por subtracção. Observados o estatuto do morfema do infinitivo verbal e o não paralelismo entre a vogal temática do verbo e o marcador de classe do substantivo, concluiremos que a forma derivante não é o infinitivo do verbo, mas o seu radical a que se juntam os marcadores de classe -o, -a e -e.
Refutado o carácter regressivo da formação dos postverbais, torna-se necessário aduzir critérios que permitam solucionar a direccionalidade entre os membros de um par lexical formado por um substantivo e por um verbo. A dificuldade, ou a menor obviedade, na identificação do derivante e do derivado em pares como janta/jantar e rato/ratar deve-se à inexistência de marcas formais, como sufixos derivacionais, que apontem que o substantivo é derivado ou derivante do verbo. Nos casos em que a operação de derivação se faz mediar por um sufixo derivacional, este problema não se levanta. Por exemplo, no par arborizar/arborização, a presença do sufixo -ção no substantivo indica que estamos perante uma relação em que o substantivo é o derivado e o verbo é o derivante. No par rubor/ruborescer o sufixo -esc- permite identificar o verbo como derivado e o substantivo como derivante.
Nos pares substantivo/verbo em que não interveio nenhum sufixo derivacional é necessária a utilização de critérios que não se limitem à observação da superfície dos lexemas. Assim, os critérios a usar na identificação de pares substantivo > verbo baseiam-se na observação de traços morfofonológicos, sintáctico-temáticos e semânticos do substantivo e do verbo.
Os traços morfofonológicos têm que ver com a presença de afixos verbais no substantivo. Assim, no par enguedelha/enguedelhar, a presença do prefixo en-, que permite formar verbos denominais e não substantivos deverbais, leva a concluir que o verbo é a base e o substantivo o seu produto. Pelo contrário, no par ornamento/ornamentar, o verbo é produto do substantivo, facto que se torna visível pela presença do sufixo -ment- operador da derivação deverbal e não denominal. A observação da posição do acento no substantivo é outro critério a ter em conta na dilucidação da direccionalidade em análise.
Como o derivado herda do derivante traços semânticos e sintáctico-temáticos, se o substantivo for deverbal apresentará, por um lado, significações provenientes quer da estrutura argumental quer da estrutura eventiva do verbo de base, e, por outro, a capacidade de funcionar ele próprio como predicador.
Os referidos critérios, perspectivados sob uma abordagem sincrónica das estruturas dos lexemas, deverão ser ainda complementados por uma abordagem diacrónica.
Esta não é entendida como a referência redutora, porque quase sempre baseada em registos escritos limitados, a pretensas primeiras abonações do substantivo e do verbo. O critério diacrónico resulta num precioso instrumento se perspectivado como auxílio na dilucidação, por exemplo, do carácter presente ou pretérito de algumas estruturas morfológicas/morfemáticas.
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Keywords
Morfologia Derivação regressiva
Citation
RODRIGUES, Alexandra Filipa Soares (2002). Para compreender o mecanismo de formação dos chamados “derivados regressivos”. In Encontro Comemorativo do 25º Aniversário do Centro de Linguística da Universidade do Porto. Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Vol. 1. ISBN 972-9350-70-1. p. 9-19
Publisher
Universidade do Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto