ESA - Capítulos de Livros
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- Processos de cocriação como ferramenta transformadora nos contextos educacionaisPublication . Pereira, Fernando A.; Almeida, JoãoOs tempos de hoje são tempos de mudança. Esta ideia não encerra, em si, novidade alguma, pois, por definição, ou por default, os tempos sempre são tempos de mudança. O que há de novo então nos tempos de hoje? O novo é que a mudança, hoje, é extraordinariamente mais acelerada e imprevisível do que nunca, tal como, aliás, foi antecipado por Giddens (2000) em as consequências da modernidade e por Beck et al. (2000) acerca da modernização reflexiva, ou ainda por Bauman (2001) acerca da modernidade líquida. A aceleração, intensidade e imprevisibilidade é tal que ultrapassam a ideia de modernidade tardia, de segunda modernidade ou ainda de modernidade líquida também usada pelos mesmos sociólogos. Hoje, vinte anos volvidos desde essas conceptualizações, a radicalização dos fenómenos da modernidade e outros fenómenos entretanto emergentes, criou uma rutura evidente e catapultou a sociedade para uma nova era, definitivamente pós-moderna. Uma era ainda sem nome (global, digital são adjetivos usados) mas definitiva e contundente nas suas consequências: no risco, na imprevisibilidade, na reflexividade, na rutura e reinvenção das relações sociais, nas formas de trabalho, entre outras. Neste capítulo tentaremos perceber como estas profundas mudanças sociais impactaram os contextos de trabalho no ensino superior e como elas são, simultaneamente, produto e fator desses contextos. Em particular intentaremos desenvolver a ideia de como a cocriação, enquanto metodologia de trabalho em equipa, responde aos desafios de promover contextos de trabalho saudáveis e motivadores. Uma breve leitura das missões plasmadas pelas Instituições de Ensino Superior (IES), constata-se a ideia transversal de que a missão das IES visa a produção e partilha do conhecimento científico, técnico e filosófico e, desta forma, a promoção do desenvolvimento e do bem-estar social. Em abstrato, esta idealização das IES é meritória e se, bem entendida e posta em prática, atinge os seus propósitos de contribuir para o desenvolvimento da humanidade de forma sustentável e em harmonia com a natureza, digamos assim. Apesar deste enunciado geral, embora careça de verificação científica, é voz corrente, sobretudo na comunicação social, que as IES vivem nos seus castelos dourados mais ou menos alheias às necessidades societárias e produzem (termo muito inadequado aliás) recursos humanos mal preparados para a vida produtiva, falhando assim a sua missão. A nossa proposta, porém, implica a revisão da missão das IES no sentido de que a missão maior das IES seja a de ajudar a criar mulheres e homens livres. Livres pelo conhecimento. Passemos a complexificar esta ideia simples iluminando o caminho sob a luz do paradigma interacionista da construção social de Mead (1934). Este caminho inclui considerações sobre o ambiente físico e psicossocial do trabalho, sobre as metodologias pedagógicas promotoras de multiculturalidade e da singularidade dos indivíduos como é o caso dos programas de cocriação na ação pedagógica.
- Historical and cultural perspectives on obesity and body image in PortugalPublication . Meireles, Manuela; Ferro-Lebres, Vera; Almeida-de-Souza, Juliana; Podestá, Olívia Galvão de; Machado, Ana; Ferreira, Jessica; Pereira, Fernando A.Portuguese adolescents and young people are subject to normative discontentment related to body image perception. This perception is subjective and influenced by several factors including mass media communication or social media messages. To aggravate this situation, we live in a pro-obesogenic era. Advertising for unhealthy food facilitates excess body weight which in turn contributes to body dissatisfaction and to the manifestation of eating disorders. We analyzed the covers of printed magazines from the last 13 months to understand how body image is portrayed in actuality. Of the total magazines, 29% have messages related to beauty culture. Some of them were related to weight or body shape such as “body in shape” (“Corpo em forma”), and “prepare the body for summer” (“prepare o corpo para o verão”). Only 15 (9.4%) of those magazines are assisting the slenderness culture: “Easter without gaining weight” (“Páscoa sem engordar”), “After holidays lose weight” (“depois das férias perder peso”), “do not come back with more weight from holidays” (“não volte com mais peso das férias”), “loose weight for once” (“emagreça de vez”), and “loose x kg in y weeks (“emagreça x kg em y semanas”). From the total of magazines, 8.5% (14 magazines) were identified as having body shaming, inducing that a change was necessary to have a desirable body. Despite these results, excess body weight is still a target of social stigma and bullying at scholarly levels. However, movements of body positivity and TV shows increasing awareness of how stigma affects people suffering from obesity and eating disorders are becoming more common opening space for improvements in the next years, that will undoubtedly need a multidisciplinary integrated approach to succeed.
- A perspetiva da Sociologia sobre o doente oncológico e o cuidador informalPublication . Pereira, Fernando A.A notícia de uma doença crónica, sobretudo com alguma severidade, como é o caso da doença oncológica impacta profundamente a vida dos pacientes, dos seus significativos e do entorno social dos mesmos. A doença crónica é assim simultaneamente um fenómeno pessoal e um fenómeno social. Isto determina desde logo a sua complexidade e multidimensionalidade no sentido de Marcel Mauss (1966)) e a necessidade de uma abordagem interdisciplinar nos cuidados disponibilizados. Entre as abordagens teóricas em sociologia, a nosso ver, aquela que melhor responde às exigências atuais dos cuidados de saúde é a perspetiva do interacionismo simbólico teorizada por George Herbert Mead em “Mind, Self and Society” (Mead, 1934). Na perspetiva interacionista cada indivíduo é o principal ator da sua vida, é único, singular e insubstituível. Neste sentido, todas as suas grandezas e fraquezas, virtudes e defeitos, conhecimentos e desconhecimentos, são recursos preciosos e devem ser tido em conta em todas as situações da sua vida, incluindo na saúde e na doença. Neste breve contributo para este livro explanaremos as nossas ideias em torno de dois aspetos que são, afinal, duas fases da mesma moeda − o impacto da doença oncológica na pessoa do paciente e o impacto da mesma no cuidador informal (quando existe) e nos seus significativos. Outros olhares da sociologia são igualmente relevantes, como sejam: as implicações sociais da doença, as respostas dos sistemas de saúde e social, os impactos económicos, entre outros, mas não nos ocuparemos deles aqui.
- Mãe e Filha. Testemunho comentado sobre o cuidado e o amorPublication . Ferreira, Paula Alexandra; Pereira, Fernando A.Este é um capítulo que se espera diferente. Foge à ortodoxia do estudo científico, embora, possa ser aparentado com a metodologia das histórias de vida e com matiz de abordagem antropológica. A riqueza repousa na nudez, sem filtros, do testemunho. Daí a opção pela inclusão de longos extratos do mesmo. O comentário pretende ser meramente estrutural, diríamos quase supérfluo e pode ser substituído, com vantagem, pela leitura e reflexão singular do leitor. Aliás, a meia da escritura, no que toca ao comentário, decidimos não recorrer a fontes científicas. Isto, porque, o comentário se pretende discreto e minguado e porque, em boa verdade, não sentimos a necessidade de recorrer a essas fontes. Importa notar que este testemunho surge no momento subsequente à perda. Uma forma muito interessante e, quiçá, muito eficaz de fazer o luto. A nudez deste testemunho tem um valor metodológico e epistemológico evidente, pois o seu conteúdo está imaculado de qualquer enviesamento etnocêntrico. Este testemunho não resulta de nenhum processo de investigação de natureza sociológica, antropológica, psicológica ou outra. Qualquer mácula etnocêntrica terá sempre de ser indexada à escritura do comentário ou, posteriormente, à leitura pelos leitores.
- A ideia de vida ativaPublication . Pereira, Fernando A.A problemática do envelhecimento ativo foi inaugurada pela definição avançada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2002, em que se pode ler: “o envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança tendo em vista o incremento da qualidade de vida das pessoas idosas” (OMS, 2002). Esta definição é lapidar, mas, se tomada em consideração apenas nos seus exatos termos, é vaga e conducente a equívocos ao nível das práticas. O texto da OMS acrescenta todavia detalhes importantes que devem ser considerados, designadamente a ideia de que “o envelhecimento ativo deve potenciar o bem-estar físico, social e mental das pessoas ao longo de todo o ciclo de vida, assim como a sua participação na sociedade de acordo com as suas necessidades, desejos e capacidades, enquanto lhes são providenciados proteção, segurança e cuidados adequados”. O mesmo texto define também as determinantes do envelhecimento ativo designadamente: cultura e género (que considera determinantes transversais); determinantes sociais e económicos; determinantes do ambiente físico e do acesso à saúde e serviços sociais; e, ainda, determinantes comportamentais e individuais. Nestes termos, o envelhecimento ativo é suscetível de ser relacionado com o conceito de inclusão social e com o conceito de saúde, os quais estão, por sua vez, intimamente relacionados.
- Relações intergeracionais familiaresPublication . Pereira, Fernando A.A família, como qualquer outra organização humana, está sujeita aos condicionalismos da pós-modernidade. A tendência geral, verificada em diferentes países e culturas, quer em espaço urbano quer em espaço rural, tem sido a substituição progressiva da família extensa pela família nuclear. Apesar desta mudança fundamental, e ao contrário da ideia generalizada pelos media, a investigação social mostra que as relações intergeracionais continuam a ser fortes nas sociedades industrializadas (Fernandes, 2008) (Bengtson, Rosenthal, & Burton, 1996) e que, paradoxalmente, alguns fenómenos que afetam a família, como o divórcio, a monoparentalidade e o desemprego, acabam por reforçar o papel da família, sobretudo dos elementos mais idosos (Bengtson et al., 1996). A fragilidade das relações intergeracionais, verdadeira rede de suporte social informal, não resulta da perda de qualidade dos afetos entre os membros da família, devidas à crise de valores imputáveis à pós-modernidade (crise do casamento, diferenças de mentalidade, pressões socioprofissionais, entre outras). A fragilidade, ou a falência, das relações intergeracionais, resulta da falta de pessoas para construir e reconstruir continuamente essas relações, como é obrigatório em todos os fenómenos sociais. É uma crise de pessoas. No interior despovoado, provocada por movimentos demográficos intensos, continuados e irreversíveis, como causas de um nível de desenvolvimento incapaz de produzir riqueza e garantir condições de vida e de trabalho. No litoral, apinhado de pessoas e de solidão, provocado pelo predomínio da família nuclear estrita, pela estranheza e fragilidades das redes informais de suporte social, pelo número muito elevado de pessoas que vivem só e que estão isoladas socialmente.
- A institucionalização do idosoPublication . Pereira, Fernando A.A institucionalização do idoso pressupõe um tempo e um espaço de ressocialização intensa. Os cuidados observados na preparação e desenvolvimento da mesma determina em grande medida a qualidade de vida do idoso institucionalizado. Qualidade de vida é um conceito multidimensional que inclui: a tomada em consideração do percurso de vida do idoso (uma identidade biográfica) que estruturou as fases anteriores da vida e estruturará a as seguintes; a observação das particularidades culturais as quais não podem ser ignoradas ou menosprezadas no projeto de vida do idoso; o respeito pelos hábitos e costumes quotidianos dos idosos, que embora passiveis de readaptação, devem ser respeitados na sua essência; um projeto de vida que assegure conforto, segurança e dignidade plena, articulado e adequado às transformações próprias do envelhecimento.
- Sistemas de apoio aos idosos em PortugalPublication . Pereira, Fernando A.O apoio aos idosos está baseado na família e na institucionalização de origem pública, privada, ou em parceria. Vamos proceder uma síntese diacrónica da importância de cada um.Iniciando pela família, esta, tal como qualquer outra organização humana, está sujeita aos condicionalismos da pós-modernidade. A tendência geral, verificada em diferentes países e culturas, quer em espaço urbano quer em espaço rural, tem sido a substituição progressiva da família extensa pela família nuclear. Apesar desta mudança fundamental, e ao contrário da ideia generalizada pelos meios de comunicação social, a investigação sociológica mostra que as relações intergeracionais continuam a ser fortes nas sociedades industrializadas (Fernandes, 2008) (Bengtson, Rosenthal, & Burton, 1996) e que, paradoxalmente, alguns fenómenos que afetam a família, como o divórcio, a monoparentalidade e o desemprego, acabam por reforçar o papel da família, sobretudo dos elementos mais idosos (Bengtson et al., 1996).Passando à institucionalização, em Portugal, em 2008, existiam cerca de 5500 entidades proprietárias de equipamentos sociais, das quais a grande maioria (72%) pertence ao setor não-lucrativo (sobretudo as IPSS ) e 28% ao setor lucrativo (privado). Estes valores expressos na Carta Social 2008 ilustram bem o crescimento do setor social, assim como o esforço do estado na sua implementação (MTSS-GEP, 2009).
- Ética e humanitude no cuidado do idosoPublication . Pereira, Fernando; Gomes, Maria José; Galvão, Ana MariaImaginemos um barco de papel sulcando o oceano imenso em direção a portos desejados. Imaginemos que esse barco de papel é um ser humano e que o oceano imenso é a sua vida. Todo o ser humano carece de referenciais normativos que a cada momento o ajudem a encontrar os rumos certos da sua vida. A ética é um desses referenciais normativos, emparelhando com o direito, a cultura e a religião na aferição da conduta dos indivíduos. Estes referenciais normativos são todos igualmente importantes e incumbe ao indivíduo a tarefa de os interiorizar e aplicar nas suas práticas quotidianas. Todos estes referenciais emanam da interação social e da estrutura social, facto que lhes confere coerência e complementaridade, no entanto, também é verdade que podem entrar em contradição, como por exemplo: não visitar um familiar institucionalizado é censurável do ponto de vista ético, cultural e religioso mas não é ilegal. A ética deve então ser vista como mais um referencial normativo da conduta humana nem mais nem menos importante que outros referenciais normativos. A ética, todavia, suplanta os outros referenciais normativos pela sua universalidade e, também por isso, é de valor inestimável para a humanidade.
- Emergência da Gerontologia e do gerontólogoPublication . Pereira, Fernando A.; Pimentel, Maria HelenaA questão essencial que se coloca a uma nova profissão é a sua pertinência social real e simbólica no contexto das profissões e ocupações já existentes. A pertinência social da gerontologia está ligada aos fenómenos demográficos do envelhecimento nas sociedades ocidentais, assim como à exigência crescente da qualidade dos cuidados prestados à pessoa idosa. Nestas sociedades a proporção de idosos e muito idosos aumenta constantemente, atingindo, na atualidade, valores próximos dos 20% em muitos países da EU, incluindo Portugal, sendo igualmente previsível que esses valores se aproximem dos 30% no ano 2050 (Giannakouris, 2008). Esta problemática tem, entre outros, contornos políticos, económicos, culturais, psicossociais, médicos e humanos. Sendo igualmente certo que das culturas que valorizam e respeitam os idosos pela sua sabedoria, às culturas e ritmos de vida ocidentais que reservam aos idosos o estatuto de improdutivos e de inúteis, todas elas enfrentam a necessidade de cuidar dos seus idosos.