ESA - Dissertações de Mestrado
Permanent URI for this collection
Browse
Browsing ESA - Dissertações de Mestrado by Subject "Agentes"
Now showing 1 - 1 of 1
Results Per Page
Sort Options
- O sistema de comercialização de castanha da Terra Fria Transmontana e sua cadeia de valorPublication . Matos, AldaApós a derrocada do sector agrícola que viu o valor das importações aumentar com a adesão de Portugal à União Europeia, bem como a estagnação continuada dos rendimentos agrícolas, a castanha foi o produto que, ao contrário dos outros produtos agrícolas, viu o seu preço (e o consumo) aumentar por todo o mundo, passando de “produto de sobrevivência” das populações rurais a “produto de valor acrescentado qualidade”. Há muito, que a castanha portuguesa se impõe no mercado internacional, sendo um dos privilegiados frutos que contribui para o saldo positivo da balança comercial de frutos. O aumento da área de plantio, da produção, das exportações, da qualidade e a tendência global para o aumento do consumo deste fruto, foram, entre outros, aspectos a considerar no estudo desenvolvido sobre a cadeia de valor e o sistema de comercialização da mais importante região portuguesa na produção de castanha, nomeadamente a Terra Fria Transmontana. Caracterizar a fileira da castanha, descrever os perfis dos agentes, identificar e perceber como funcionam os vários elos do sistema de comercialização, analisar as estratégias de compra e venda de castanha, identificar as mais-valias do fruto em cada elo, e finalmente propor medidas – a nível técnico, organizacional e políticas afins – que permitam aos produtores da região de produção partilhar mais plenamente os benefícios que a produção da castanha é sem dúvida alguma capaz de gerar, foram os objectivos específicos definidos nesta investigação. Assim, esta dissertação dividiu-se essencialmente em duas fases. Na primeira, fez-se o enquadramento da temática em estudo; na segunda, efectuaram-se a interpretação, a descrição e a análise dos resultados. Feito o ponto da situação do estado actual da arte ao nível da fileira da castanha (comercialização, mercados, qualidade, tendências de consumo, factores ambientais e constrangimentos) complementado por entrevistas aos principais agentes de comercialização, concluímos que, na complexa engrenagem do sistema de comercialização de castanha, os agentes se distribuem por vários elos da cadeia de valor incorporando diferentes serviços e funções – desde os produtores, ajuntadores, armazenistas-exportadores (onde se incorporam também as unidades de transformação), “magusteiros” aos “agentes de controlo no destino”. Os produtores adoptam entre si múltiplas estratégias na venda da castanha, permanecendo nesta fase, sob a dependência dos ajuntadores, “magusteiros e armazenistas-exportadores. Os ajuntadores, localmente, concentram a produção para a venderem por grosso aos armazenistas-exportadores e os “magusteiros”, vindos de fora, compram o fruto a granel ao produtor, a fim de o distribuírem no mercado nacional aos retalhistas. Os “agentes de controlo no destino”, essencialmente localizados no Brasil, França, Itália e Espanha, recebem a castanha do armazenista-exportador e distribuem-na no país de destino. O valor acrescentado obtido internamente é mais comercial do que industrial, ou seja, o produto é calibrado, limpo e desinfectado pelos armazenistas-exportadores e distribuído aos compradores a jusante, para consumo fresco ou para transformação. Embora os armazenistas-exportadores executem a separação da castanha por vários lotes de diferentes variedades e calibres e o tratamento do fruto para distribuição no mercado interno e externo, há apenas uma preocupação mínima no tratamento industrial – onde, em adição aos processos de graduação e desinfecção mencionados, se verifica ainda o descasque e a congelação da castanha – para além destas operações, não ocorre mais nenhuma transformação física da castanha, à qual, mais nenhum valor de laboração é atribuído. Os outros operadores – produtores, ajuntadores, “magusteiros” e agentes de controlo no destino – acrescentam apenas mais-valias comerciais ao fruto. Acerca da competitividade da fileira, enunciaremos alguns dos constrangimentos e potencialidades que se salientaram ao longo da investigação. Os mais importantes constrangimentos compreendem: (a) baixa produtividade dos soutos; (b) aumento dos problemas de fitossanidade, devido, entre outros, ao incremento das áreas de plantação e escassez de mão-de-obra a que se associa o aumento generalizado do seu custo; (c) défice de organização entre os produtores para a comercialização do produto; (d) desertificação do meio rural e elevada faixa etária no elo da produção; (e) concorrência desleal; (f) práticas especulativas; (g) assimetria do poder negocial entre as grandes superfícies e os fornecedores; (h) ameaça de forte concorrência dos países de Leste (incluindo a Turquia) por via do alargamento da União Europeia e (i) massificação da produção nacional pela introdução de variedades estrangeiras e progressiva supressão das variedades regionais. No que se refere às potencialidades, incluem-se: (a) bons rendimentos – se bem que distribuídos de forma desigual – para todos os agentes de comercialização; (b) entrada de divisas no país com os mercados de exportação; (c) produto muito valorizado e de prestígio no estrangeiro; (d) produto usado na alimentação humana e animal; (e) grande facilidade de escoamento; (f) material genético valioso; (g) produto biológico; (h) investigação em híbridos resistentes às doenças da tinta e cancro; (i) aumento da procura de castanha previamente descascada e congelada para a indústria de transformação; (j) desinfecção da castanha por via húmida em detrimento da via química e (k) colheita mecânica. Finalmente, as implicações sugeridas pela pesquisa para a fileira incluiriam as seguintes acções prioritárias: além do reforço da investigação científica na luta contra os problemas fitossanitários dos soutos, da elaboração do cadastro, que permitiria saber quantos castanheiros estão neste momento infectados, da prática de técnicas culturais com vista à utilização da colheita mecânica para mitigar a diminuição verificada em mão-de-obra no Interior e o recurso a mão-de-obra estrangeira residente em Portugal, os constrangimentos da fileira só serão ultrapassados quando for transposta a barreira do individualismo, pela constituição de organismos associativos coesos, de forma a permitir o aumento do valor acrescentado da castanha na origem. O sector produtivo poderia, desta forma, ocupar – embora de forma limitada – os elos comerciais e industriais que se situam a jusante. As acções a desenvolver no seio da fileira deverão passar, pois por uma mudança de atitudes de modo a gerar consensos entre os vários elos da cadeia de valor, visando sobretudo a selecção das variedades de castanha a produzir (regionais ou normalização dos calibres), os tratamentos a efectuar (via química ou via húmida), a redução da especulação e a dinamização do associativismo.