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A persistência do texto literário ao longo da história da humanidade é um dado inquestionável. A literatura institui-se e circula entre a(s) comunidade(s) humana(s) como uma forma, simultaneamente transparente e complexa, de comunicação da sensibilidade. Por outro lado, o universo literário é compósito, não só por se encontrar naturalmente aberto ao porvir, mas também pelo facto de, enquanto sistema semiótico, nele se patentear e investir um permanente diálogo com outras áreas da expressão artística e dos saberes humanos. No âmbito desta comunicação, tem particular interesse o diálogo entre a (escrita da) literatura e a (escrita da) história. É assim que, valorizando a dimensão sócio-histórica da literatura – a qual nos recorda o entendimento do texto literário como um cronótopo – nos propomos proceder a uma análise de textos autobiográficos escritos por jovens em situação de guerra. Mais especificamente, o corpus de análise será constituído por diários juvenis (designação que nos coloca problemas de natureza arquitextual), cuja leitura nos abre horizontes de reflexão numa interface entre o discurso pessoal, de âmbito profundamente subjetivo, e a escrita da história coletiva pelo reconhecimento do caráter testemunhal desses discursos. Centrar-nos-emos na análise de três obras: Diário de Anne Frank, Diário de Rutka (duas adolescentes que morreram nos campos de concentração do regime hitleriano) e O diário de Zlata (uma adolescente que, mais recentemente, viveu e sobreviveu ao longo bombardeamento de Sarajevo). Procederemos a uma análise dos discursos autobiográficos problematizando as dimensões poética e pragmática desses discursos e refletindo acerca das formas como se “joga” a relação entre a escrita intimista (centrada num drama pessoal) e a escrita do drama coletivo. Valorizando uma perspetiva socrática da educação (perspetiva promotora do pensamento crítico e reveladora dos “pontos cegos” que sempre subsistem nas perceções que vamos construindo da realidade) questionaremos o valor educativo / formativo da leitura destas obras-testemunho, num momento histórico em que a humanidade se aproxima de novos tempos de crise, pelo agudizar de conflitos a grande escala.
Description
Keywords
Literatura História Escrita Autobiografia
Pedagogical Context
Citation
Teixeira, Carlos (2017). A dimensão histórica do texto literário: o valor testemunhal da escrita autobiográfica. In B.D. Silva; L. Almeida; A. Barca; M. Peralva; R. Alves (Orgs.) XIV Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia: livro de resumos. Braga
Publisher
Universidade do Minho