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Abstract(s)
O pastoreio dirigido com rebanhos mistos de vacas e cabras, ou de vacas,
cabras e ovelhas em áreas de monte (baldios) era uma componente
essencial na estrutura e funcionamento dos sistemas de agricultura
tradicionais de montanha do norte de Portugal. Nas últimas décadas, o
retrocesso da pastorícia e o concomitante incremento da biomassa
arbustiva traduziu-se na substituição da perturbação causada pela
herbivoria por eventos de fogo de curto ciclo de recorrência e elevada
intensidade e severidade. Consequentemente, a paisagem vegetal do
monte modificou-se. Nas elevações graníticas, um coberto vegetal
predominantemente herbáceo, perene e quase contínuo (nas bolsas de solo
entre os afloramentos rochosos) de Agrostis capillaris e híbridos com A.
castellana, ou de Arrhenatherum elatius subsp. bulbosum, foi substituído
por mosaicos complexos de matos baixos dominados por Erica sp.pl. (nos
solos mais delgados e oligotróficos), matos altos de Cytisus sp.pl. ou
Genista florida (em solos um pouco mais profundos, em relevos
tendencialmente côncavos), e comunidades herbáceas de etapas
sucessionais regressivas (sobretudo ervaçais anuais e comunidades de
Agrostis truncatula subsp. pl.). Em locais sujeitos a fogos particularmente
intensos/severos de verão em 2016, a superfície coberta de solo nu pode
não ultrapassar os 25%. Os fogos de elevada intensidade/severidade para além de selecionarem
uma flora de menor interesse forrageiro reduzem a cobertura do solo com
tecidos fotossintéticos e, por essa via, a produtividade forrageira das
montanhas. A teoria ecológica mostra que padrões de perturbação de
elevada intensidade afetam negativamente a diversidade biológica a várias
escalas. A simplificação e a monotonização dos mosaicos sucessionais das
montanhas com uma dominância quase absoluta de etapas sucessionais
regressivas é uma evidência disso mesmo. Por outro lado, os fogos de
elevada intensidade reduzem o stock de carbono no solo por volatilização
da matéria orgânica do solo. A mostragem dos solos da serra do Alvão no
âmbito do LIFE-Maronesa mostram que o fogo teve um fortíssimo impacto
no stock de carbono e que prevalecem condições de elevada oligotrofia e
acidez (vd. resumo de Aguiar et al., nesta publicação).
Os sistemas de produção animal de montanha integram dois espaços
complementares: o lameiro e o monte, o primeiro de posse privada, o
segundo baldio. A degradação do monte teve, necessariamente,
consequências na estrutura e função dos lameiros. Para além do abandono,
em algumas áreas superior a 50%, os lameiros sofreram uma inversão da
flora: os pretéritos lameiros de Holcus lanatus estão hoje dominados por
Agrostis capillaris e híbridos, com perdas de produtividade em matéria seca
de superiores a 50%. Estas alteração está certamente relacionada com a
decadência da ciclagem e do stock de alguns nutrientes.
O LIFE MARONESA - Market Awareness Raising for Opportunities in
Needed Extensification and Soil-friendly Agriculture (LIFE19
GIC/PT/001285), é um projeto LIFE de Mitigação e Adaptação às alterações
climáticas, tópico de Governança e Informação Climática, cofinanciado
pelo programa LIFE da Comunidade Europeia. Este projeto foi estruturado
em torno de uma conexão causal complexa que relaciona a produção de
bovinos maronês num regime de pastoreio extensivo contínuo com
restrições com o sequestro de carbono na matéria orgânica do solo e o
restauro dos ecossistemas da montanha temperada (lameiro e monte),
num território com solos profundamente alterados por um regime de fogos
de elevada intensidade/severidade, estabilizados num steady state de
baixa sequestração de carbono na SOM.
A componente ecológica/agronómica do projeto envolve um número
significativo e diversificado de ações como sejam a aplicação de calcário
magnesiano, a disseminação de sementes através de fenos de boa
qualidade, o uso do fogo controlado, a distribuição de manjedouras móveis
na montanha, a construção de passagens canadianas, cercas e mangas de maneio, e a reconversão de giestais em lameiros com destroçamento
mecânico do coberto arbustivo e estabilização pela herbivoria. Estas ações
dirigem-se à diversificação do padrão de perturbação, ao aumento da
pressão de pastoreio, à redução da intensidade/severidade do fogo, à
restauração da fertilidade do solo e à dispersão das sementes. Admite-se
que sejam suficientes para despoletar uma cadeia causal virtuosa que
culminará no aumento da produtividade do monte e dos lameiros, no
aumento da diversidade biológica, na sequestração de carbono no solo e na
produção de riqueza.
Description
Keywords
Montanha Intensidade do fogo Sequestração de carbono Herbivoria Fertilidade da terra Raça maronesa Pastagens
Pedagogical Context
Citation
Aguiar, Carlos; Salvação, Juliana; Costa, Rafael de Quevedo; Rego, Avelino; Ferreira, António; Marques, Duarte (2022). LIFE Maronesa – restaurar a produtividade e o stock de carbono das montanhas através da herbivoria. In 41ª Reunião de Primavera da SPPF. Gois
