Browsing by Author "Santos, Miguel Horta"
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- Bioecologia e conservação das populações de Salmo trutta (L.) na bacia hidrográfica do rio Tua (NE Portugal)Publication . Santos, Miguel Horta; Teixeira, Amílcar; Varandas, SimoneA truta-de-rio, Salmo trutta (L.), é uma espécie que habita os rios de montanha do Norte e Centro de Portugal. É frequentemente usada como atração turística e alvo importante e popular da pesca desportiva em Portugal e na Europa. Neste âmbito, o objetivo do presente trabalho consistiu no estudo da bioecologia e conservação da truta-de-rio no Nordeste Transmontano e em particular no Alto Tua, inserido na área protegida do Parque Natural de Montesinho. Durante a primavera de 2014 foi avaliada a integridade ecológica dos rios que constituem a bacia hidrográfica do Alto Tua. Foram avaliados parâmetros abióticos (qualidade da água e dos habitats aquáticos e ribeirinhos) e bióticos (comunidade de macroinvertebrados), em 15 pontos de amostragem selecionados ao longo dos cursos de água. Nos anos de 2013 e 2014 foram ainda amostradas as comunidades piscícolas. Selecionaram-se 15 locais de amostragem distribuídos pelos rios Mente, Rabaçal, Baceiro, Tuela e Tua. A amostragem das comunidades de peixes e invertebrados foi feita de acordo com o protocolo definido pela Diretiva Quadro da Água. Relativamente à espécie-alvo, a Salmo trutta, foram também determinados parâmetros populacionais e avaliado o uso dos recursos disponíveis (i.e. alimentação e habitat) nos diferentes rios truteiros. Na generalidade verificou-se que os sistemas aquáticos beneficiam de boa integridade ecológica, suportada por uma boa qualidade físico-química da água, hidromorfológica e biológica. Nos troços amostrados, observou-se uma boa ou excelente qualidade da água, confirmada pelos registos elevados dos teores de oxigénio dissolvido e baixa concentração em sais dissolvidos e nutrientes para além duma temperatura estival da água baixa. A qualidade biológica, avaliada com base na informação obtida a partir das comunidades de invertebrados, permitiu classificar os rios como tendo boa ou excelente qualidade (i.e. a partir dos índices bióticos e outras métricas calculadas). Foi detetada uma influência antropogénica mínima, com grande heterogeneidade de microhabitats aquáticos e ribeirinhos que garantem um mosaico de habitats para muitas das espécies autóctones presentes na bacia do Tua. Entre elas merecem destaque para além dos endemismos ibéricos piscícolas (i.e. espécies de ciprinídeos), o verdemã-do-norte (Cobitis calderoni) e a truta que, apesar do estatuto pouco preocupante (LC, IUCN), está referenciado existir uma diversidade genética notável que justifica a preservação destas populações de salmonídeos no sul da Europa. Acresce salientar a importância como único hospedeiro das populações de mexilhão-de-rio (Margaritifera margaritifera) (espécie listada como “Em Perigo” pela IUCN) na bacia hidrográfica do Tua, local onde esta espécie ocorre com maior densidade e sucesso reprodutor em Portugal. No troço mais a jusante da bacia do Tua foram encontrados alguns sinais de perturbação associados aos aglomerados populacionais rurais e urbanos, à agricultura, e alguma indústria (e.g. complexo do Cachão) e à introdução de espécies exóticas como a perca-sol (Lepomis gibbosus). A regularização de caudais prevista no Aproveitamento Hidroelétrico de Foz-Tua (AHFT), que se encontra atualmente em construção, vai contribuir para um cenário dominado pela diminuição da integridade ecológica dos ecossistemas aquáticos da parte inferior da bacia do Tua. Em termos de fauna piscícola, os resultados obtidos permitiram atualizar a composição e distribuição de espécies piscícolas no sector superior do Alto Tua. Foi encontrado um predomínio da truta nos troços de cabeceira, coabitando nos locais situados mais a jusante com o escalo (Squalius carolitertii), a boga (Pseudochondrostoma duriense), o barbo (Luciobarbus bocagei) e o bordalo (Squalius alburnoides). Nas populações de Salmo trutta foram detetadas diferenças significativas na condição física dos peixes. Foram ainda determinadas diferenças significativas na dieta das trutas nos rios amostrados, ainda que a alimentação da truta seja microcarnívora e de tendência generalista e oportunista. Uma análise mais detalhada permitiu também verificar variações temporais e espaciais na dieta das trutas dos 4 rios amostrados. No que respeita ao uso do habitat foram detetadas diferenças entre as trutas adultas, que colonizam os melhores refúgios (blocos, pedras e vegetação) fruto da dominância sobre os juvenis que são deslocados para as áreas marginais. Por fim destaca-se a necessidade de preservar a singularidade dos habitats, espécies e ecossistemas aquáticos do Nordeste Transmontano, só possível mediante medidas apropriadas no ordenamento e gestão de populações e ecossistemas e na capacidade de envolver os cidadãos de forma geral e particularmente todos os utilizadores no sentido de evitar a poluição, a degradação física de habitats aquáticos e ribeirinhos e especialmente a expansão de espécies exóticas.