Browsing by Author "Ronchesel, Marcos Martins"
Now showing 1 - 1 of 1
Results Per Page
Sort Options
- Avaliação dos efeitos ecológicos de aproveitamentos hidroelétricos Sobre as comunidades de macroinvertebrados e peixes no Norte de Portugal (Bacia do Rio Douro)Publication . Ronchesel, Marcos Martins; Teixeira, AmílcarNas últimas décadas tem-se assistido a uma proliferação de pequenas e grandes barragens, justificada pelas necessidades, entre outras, do abastecimento de água aos meios urbanos e rurais, da agropecuária, do controlo de cheias e da produção de energia hidroelétrica. Contudo, são vários os impactes sociais e ambientais associados. Com efeito, as barragens reduzem a conectividade fluvial, impedem os movimentos naturais e as migrações de espécies e promovem a perturbação e fragmentação dos habitats, em pequena e larga escala. Muitas vezes, são ainda responsáveis por alterações marcadas no fluxo e na qualidade da água e facilitam a dispersão e estabelecimento de espécies exóticas, algumas delas com forte capacidade invasora. Importa realçar que as regiões mediterrânicas são tidas como “hotspots” de biodiversidade sendo essencial o estabelecimento de medidas adequadas de conservação de habitats e espécies. Sabendo que as regiões mediterrânicas enfrentam grandes mudanças climáticas, é de esperar que os habitats aquáticos e ribeirinhos sofram variações sazonais extremas no fluxo de água. Assim, períodos de seca prolongada vão alternar, cada vez mais, com episódios de precipitações intensas e irregulares que implicam grandes cheias. A gestão da água tem sido feita, principalmente, através da construção de barragens e da regularização dos rios que, no entanto, podem agravar esta situação influenciando os regimes de escoamento de água com implicações na estrutura e funcionamento dos ecossistemas aquáticos e na composição e densidade de espécies nativas. O objetivo do presente trabalho consistiu na avaliação dos efeitos ecológicos de vários obstáculos físicos de diferente dimensão, caso de açudes, pequenas e grandes barragens, nas comunidades de peixes e invertebrados da região norte de Portugal. Recorreu-se a um conjunto de metodologias para caracterizar a componente abiótica, caso da qualidade da água (medição in-situ de vários parâmetros físico-químicos) e dos habitats aquáticos e ribeirinhos (determinação dos índices QBR e GQC) e a componente biótica, nomeadamente as comunidades de macroinvertebrados e de peixes, que seguiram os protocolos de amostragem emanados pela Diretiva Quadro da Água. Deste modo, na primavera/verão de 2016 foi avaliada a qualidade ecológica na proximidade de cada um dos sete obstáculos físicos estudados: 1) Açude de Dine (Rio Tuela), Aproveitamentos Hidroelétricos (mini-hídricas) de 2) Nunes e 3) Torga (Rio Tuela), 4) Rebordelo (Rio Rabaçal), 5) Vales (Rio Tinhela), 6) Ucanha-Gouviães (Rio Varosa) e 7) Aproveitamento Hidroelétrico (grande barragem) de Foz-Tua (Rio Tua). Foram selecionados 20 locais de amostragem distribuídos pelos diferentes tributários do rio Douro e aferida a qualidade ecológica a montante e jusante dos Avaliação dos Efeitos Ecológicos de Aproveitamentos Hidroelétricos Sobre as Comunidades de Macroinvertebrados e Peixes no Norte de Portugal obstáculos. A análise integrada dos resultados obtidos a partir dos vários parâmetros abióticos e bióticos mensurados e das métricas calculadas foram suficientemente sensíveis para permitir detetar modificações substanciais na qualidade ecológica do rio Tua, nomeadamente a jusante do Aproveitamento Hidroelétrico Foz-Tua (AHFT). De facto, a jusante da barragem é notória a diminuição da quantidade, provocada pela fase de enchimento da albufeira, e da qualidade da água, com acréscimos significativos da temperatura (T> 6oC), da condutividade elétrica (EC> 140 μS/cm) e do TDS (> 50 mg/L). No que respeita à qualidade dos habitats ribeirinhos e aquáticos a degradação das condições foi óbvia, confirmada pela pior classificação (Classe V, má qualidade). As comunidades de invertebrados e de peixes estão fortemente influenciadas pelas alterações ambientais. Na fauna piscícola foi detetada presença de espécies nativas, especialmente de barbos (Luciobarbus bocagei) adultos (retidos na proximidade da barragem após a migração reprodutiva a partir do rio Douro) mas também de boga (Pseudochondrostoma duriense) coabitando com espécies exóticas de caráter invasor, caso do alburno (Alburnus alburnus) e da perca-sol (Lepomis gibbosus). Foram ainda detetadas residualmente 2 enguias (Anguilla anguilla), outrora mais comuns. A diversidade da comunidade de macroinvertebrados aparece reduzida e composta por espécies euribiontes, pertencentes maioritariamente aos Crustracea (A. desmaresti), Diptera (Chironomidae) e Mollusca (Gastropoda), adaptadas à degradação do meio. No entanto, no que respeita à componente abiótica associada aos açudes e mini-hídricas, verificaram-se oscilações menores e muito localizadas, relativamente à temperatura (T< 3 oC), ao pH (± 0,5) e à condutividade (EC> 20 μS/cm), enquanto nos habitats aquático (GQC) e ribeirinho (QBR) se observou a mesma tendência de manutenção ou decréscimo mínimo nas condições ambientais. Esta variação detetada de montante para jusante, mesmo na época mais crítica, i.e. no período estival, é pouco significativa sob o ponto de vista biológico. Com efeito, a análise multivariada aplicada aos dados, obtidos a partir das abundâncias de invertebrados e peixes, mostrou uma separação clara e estatisticamente significativa (P< 0,05) entre obstáculos e menos entre as estações de amostragem situadas a montante e jusante de cada obstáculo. Também as métricas determinadas (e.g. abundância e composição de espécies, índices bióticos- IBMWP, IPtIN e de diversidade- H’ de Shannon-Wienner e equitabilidade- J’ de Pielou) identificaram ligeira diminuição na integridade dos sistemas aquáticos, uma vez que a qualidade ecológica (avaliada em 5 classes: má, medíocre, razoável, boa e excelente) nunca foi inferior à classificação de Bom.